Era
domingo, e ela se lembrava de quando criança. Detestava domingos até poucos anos
atrás, eles eram chatos, se moldavam apenas em programas de televisão fúteis.
Hoje, é sinônimo de acordar sem despertador, o mais real de felicidade que ela
conheceu entre esses anos.
Ela
está ok, se olha no espelho, com um pijama amassado, pega sua xícara de achocolatado
e se olha de novo. Gosta do que vê, apesar de nem sempre ter sido assim.
Folheia
uma revista de moda, joga no canto, pelo tédio da massificação feminina, nunca
foi igual àquelas mulheres e hoje respira aliviada por ser diferente.
Submete-se
aos pensamentos da noite anterior, e para moldá-los, acompanha de suas
escrituras, ou melhor, a sua herança, é um DNA. Para conhecê-la basta lê-la. As
rimas às vezes são insistentes, e como não é do gosto dela contrariar, vai
cedendo sem reclamar.
Elas,
as rimas, fluem, tomam forma e se vão. Mostram-se o íntimo, a privacidade, para
quem possa vir a se interessar. Não pedem licença, atropelam muitas vezes
pensamentos prioritários.
Sempre
ouviu que o passado virá à tona, clichês que ela tanto detesta. Viver o passado
parece confuso, as aulas de literatura e gramática voltam e se condensam.
Lembrou-se
do amanhecer do sol, encostada na janela do quarto, onde o horizonte estava
pintado de um azul ensolarado. Ela odeia sol, mas ficou olhando, sentindo o
calor no rosto e ao olhar para céu, pensou nas estrelas, estavam ali, mas não
se podia ver. Como muita coisa na vida dela, que eram vividas, sentidas, na carne
viva, no âmago, e não se via, ou não se via ainda. Pensou em astrologia, ela
sustentava um ar intelectual, aprendeu desde muito nova a preencher seus
pensamentos com coisas úteis e sensatas, sabia que seu pior inimigo era seu
pensamento negativo de si mesma.
Estudou
o céu com os olhos, ficou pensando no quanto era bizarro acreditar em destinos
interligados com os astros, apesar de gostar de estudá-los, achava a ideia meio
doida. Escrito nas estrelas? Talvez, ela que se acha tão autossuficiente não
tenha aprendido a ler os astros, e por ventura nem queira.
Sua
avó dizia que não podia apontar para as estrelas porque nasciam rugas, então,
ela aprontou a própria cilada e apontou para o coração, que nos últimos meses
deveria apenas bombardear sangue, já estava de bom tamanho. Mas já que era uma
tarde nostálgica, lembrou-se de antigos amores, ou melhor, seus esboços. Os
vividos, platônicos, imorais e até irreais. Ela era tão apegada ao amor que não
procurou entender, foi amando, às vezes de forma torta, em troca de migalhas
muitas vezes, achava que era o suficiente, ou que julgava merecer. Tolice.
Ela
já viveu coisas boas, mas nenhuma o suficiente. Justiça sentimental deveria
funcionar depressa, afinal, sua essência era abastecida por ansiedade.
Parou.
Olhou ao redor, choque emocional. Coração surrado por más escolhas, por não
saber esperar, por atropelar começos, imaginação fértil demais. Vai ver esse é
seu castigo, mas no fundo ela não acredita nisso, de não merecer. Usa apenas
para justificar gente inconveniente que aparece na sua vida.
As
letras servem para mostrar que a vida vai caminhando, que ela está vivendo,
antes de tudo aprendendo a lidar com os tropeços, ela era definitivamente
desastrada, mas os anos passaram e ela teve que aprender a se equilibrar no
salto alto, esquivar das más intenções, com os erros aprender a aperfeiçoar.
Isso
tudo reflete em confusão, às vezes ela acha que é perfeita, outras nem tantos,
e algumas nenhum pouco. Então ela relaxou, acertar é ótimo, mas não é regra.
Nossa face é moldada por risos e lágrimas, e por fim, ela entendeu isso.
Ela
é apenas ela, ela sou eu.
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